domingo, 3 de dezembro de 2017

                                 SOBRE EDGAR MORIM
"A educação deve ser um despertar para a filosofia, para a literatura, para a música, para as artes. É isso que preenche a vida. Esse é o seu verdadeiro papel." Edgar Morin
O filósofo francês Edgar Morin fala sobre um dos temas que o tornou uma influência mundial, a educação. Morin fala sobre a necessidade de estimular o questionamento das crianças, sobre reforma no ensino e sobre a importância da reflexão filosófica não tanto para que respostas sejam encontradas, mas para fomentar a investigação e a pluralidade de possíveis caminhos.
Um dos principais objetivos da educação é ensinar valores. E esses são incorporados pela criança desde muito cedo. É preciso mostrar a ela como compreender a si mesma para que possa compreender os outros e a humanidade em geral. Os jovens têm de conhecer as particularidades do ser humano e o papel dele na era planetária que vivemos. Por isso a educação ainda não está fazendo sua parte. O sistema educacional não incorpora essas discussões e, pior, fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade.
As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro.

O caminho indicado por Morin é o da visão que se retira do âmbito estreito da disciplina, compreende o contexto e adquire o poder de encontrar a conexão com a existência. É preciso romper com a fragmentação do conhecimento em campos restritos, no interior dos quais se privilegiam determinados teores, e também eliminar a estrutura hierárquica vigente entre as disciplinas. Reformar esta tradição requer um esforço complexo, uma vez que esta mentalidade foi desenvolvida ao longo de inúmeras décadas.
Qual é o papel dos professores diante de um aluno com altas habilidades?
O professor deve estar atento para que as relações estabelecidas em sala de aula não sejam vistas pelo aluno com altas habilidades como algo negativo. Em geral, sabe-se que “as crianças rotuladas como superdotadas têm mais problemas sociais do que as não assim rotuladas” (WINNER, 1998, p. 179). Assim, para a criança com altas habilidades, carregar um rótulo como esse não é algo fácil. Winner (ibid., p. 179) complementa essa situação: “[...] rotular uma criança como superdotada a pressiona a desempenhar como uma criança superdotada e aumenta seu sentimento de ser diferente”. Provavelmente, quando o rótulo não é bem trabalhado/resolvido por parte dos professores, colegas e da própria criança com altas habilidades, isso pode trazer problemas para a convivência entre todos na escola. Sentimentos como rejeição e menosprezo, e até o isolamento, podem ser conseqüências negativas dessas relações interpessoais.
Winner (1998, p. 180) é pontual ao afirmar que as crianças com altas habilidades freqüentemente “[...] desempenham abaixo de sua capacidade, não apenas porque são subdesafiadas, mas também porque trabalham abaixo do seu nível para obter aceitação social”. Diante disso, o professor pode criar estratégias para minimizar esses acontecimentos em sala de aula. Por exemplo, propor seminários de discussão, nos quais cada aluno terá oportunidade para expor suas idéias, evitando assim que sempre os mesmos respondam aos questionamentos. Dessa forma, qual aluno não gostaria de participar mais ativamente de uma aula, expondo suas opiniões e interesses, ao invés de permanecer estático em uma cadeira, por horas seguidas?
O professor deve ter a consciência de que irá ensinar, mas também irá aprender com seus alunos, posto que a figura do professor como o “sabe-tudo” já está mais que ultrapassada.
É preciso um professor que seja um mediador não somente do conhecimento, mas também da compreensão de si próprio, de seus pontos fracos e seus pontos fortes, que seja mais um orientador do que um transmissor de conhecimentos, que ajude este aluno a integrar-se ao grupo e assim facilitar-lhe a sua integração à sociedade (PÉREZ, 2002).
No entanto, muitos professores encontram-se despreparados para identificar os alunos com altas habilidades. Por conseguinte, não são poucas às vezes em que esses alunos são identificados não como crianças com altas habilidades, mas sim como “alunos problemas”.
É compreensível que o desconhecido provoque medo e incertezas na prática docente com os alunos com altas habilidades. No entanto, esse fato não pode ser utilizado como desculpa para que o professor não procure profissionais capacitados para orientação em relação à educação desses alunos. Assim, espera-se que a escola possa perceber que seus alunos, a cada dia que passa, estão cada vez mais heterogêneos, pois cada um apresenta uma particularidade em especial, ninguém é igual a ninguém
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão

Em seu texto “Os sete saberes necessários à educação do futuro”, Edgar Morin afirma com veemência que todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. Segundo ele, a educação deve mostrar que não há conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. Alguns dos principais aspectos abordados pelo autor são:
  1. Devido ao erro e à ilusão, nunca se ensina o que é de fato o conhecimento;
  2. Examinando as crenças do passado, a maioria contém erros e ilusões sobre o mundo e a realidade;
  3. O conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade; ele é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução;
  4. Toda tradução comporta o risco de erro;
  5. Não há nenhuma diferença intrínseca entre uma percepção e uma alucinação;
  6. Até nos processos de leitura estamos ameaçados pela alucinação;
  7. Tomar a ideia como algo real é um erro; é como confundir o mapa com o terreno;
  8. Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem: o indivíduo pensar que suas ideias são as mais evidentes/normais;
  9. O problema do conhecimento é de todos (não só dos filósofos) e cada um deve levá-lo em conta desde muito cedo;
  10. Explorar as possibilidades de erro para ter condições de ver a realidade.