Formação e atuação dos professores: dos seus fundamentos éticos
Como
o processo educativo ocorre paralelamente ao desenvolvimento contínuo de um
sujeito por um lado conectado a comportamentos e atitudes cristalizados na
cultura e, por outro, relacionado pela consciência crítica a ideais de
liberdade e cidadania, cada educador em formação, mergulhado em incertezas,
necessita construir instrumentos próprios que lhe possibilitem subsídios para
lidar com o seu universo educacional de maneira verídica e producente,
dialogando com as interrogações que se impõem a cada dia, e, ao mesmo tempo,
desenvolver uma nova consciência de pertença a um todo integrador das várias
nuanças que compõem o tecido social, onde se inclui a educação.
Ora, a
educação é uma modalidade de ação intrinsecamente relacionada à existência do
outro. E uma prática que, por sua natureza, pressupõe uma intervenção
sistemática na condição do outro. Em sendo uma prática interventiva, traz em
seu próprio processo um risco muito grande de atingir a identidade e a
dignidade do outro. Por isso mesmo, ela é lugar onde se faz ainda mais
necessária a postura ética, tal o potencial
que tem de agredir a dignidade do outro, dos educandos.
O homem como ser social,
está diuturnamente partilhando experiências e relações com os seus semelhantes,
pois somente adquire a humanidade quando imerso na vida gregária. Essa
associação se efetiva por meio das relações pessoais, coletivas e de trabalho as
quais são sedimentadas em meio a um universo próprio à comunidade a qual está
inserido, e, portanto, são permeadas pelas peculiaridades de seu tempo
histórico. As relações são partilhadas por indivíduos semelhantes, mas com
características subjetivas, políticas, econômicas e culturais as mais diversas;
são contextuais. Cada um com seus interesses, suas aspirações, seus desejos,
suas paixões e suas razões. Há, desse modo, a necessidade de mecanismos de
orientação e regulação da forma de os sujeitos estarem em sociedade no intuito
de contribuir com uma convivência respeitosa e pacífica. “A ética se instaura
no âmbito dessa ambigüidade, reconhecendo, por um lado, a fragilidade do humano
com suas paixões e, por outro, a tentativa permanente de construir normas que
regulem a convivência humana para além da particularidade [...]” (HERMANN,
2001, p.11).
Severino (2007, p. 193)
enfatiza que “a ética contemporânea entende que o sujeito se encontra sob as
injunções da história que até certo ponto o conduz, mas que é também
constituída por ele, por meio de sua prática efetiva” . Está inscrita não na
natureza ou essência humana, como foi entendida em outras épocas, mas no
caráter social e histórico, na dimensão coletiva e política da existência dos
indivíduos, pois a “ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da
relação social coletiva” (idem, p. 193).
Destaca-se como um desafio
da escola e do docente, fazer com que os alunos se percebam e comportem-se como
membros de uma comunidade. O ambiente escolar é eminentemente coletivo e possui
cultura e dinâmicas próprias, cujas características se fundam no diálogo de
seus sujeitos em interface entre a tradição educacional e as inovações cada vez
mais exigidas nos contextos contemporâneos; constitui-se em espaço privilegiado
para esse exercício.
A ação educativa escolar não é um
fazer por fazer, mas um fazer intencional. Tratase da intencionalidade de um
coletivo de sujeitos. Essa intencionalidade coletiva, porém, é impossível de
ser construída sem que haja um mínimo de clareza teórica no nível dos sujeitos
participantes, isto é, sem que os envolvidos nessa construção saibam dar as
razões que motivam suas práticas. (BOUFLEUER, 2001, p.10)
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