quinta-feira, 5 de outubro de 2017


Formação e atuação dos professores: dos seus fundamentos éticos
Como o processo educativo ocorre paralelamente ao desenvolvimento contínuo de um sujeito por um lado conectado a comportamentos e atitudes cristalizados na cultura e, por outro, relacionado pela consciência crítica a ideais de liberdade e cidadania, cada educador em formação, mergulhado em incertezas, necessita construir instrumentos próprios que lhe possibilitem subsídios para lidar com o seu universo educacional de maneira verídica e producente, dialogando com as interrogações que se impõem a cada dia, e, ao mesmo tempo, desenvolver uma nova consciência de pertença a um todo integrador das várias nuanças que compõem o tecido social, onde se inclui a educação.

Ora, a educação é uma modalidade de ação intrinsecamente relacionada à existência do outro. E uma prática que, por sua natureza, pressupõe uma intervenção sistemática na condição do outro. Em sendo uma prática interventiva, traz em seu próprio processo um risco muito grande de atingir a identidade e a dignidade do outro. Por isso mesmo, ela é lugar onde se faz ainda mais necessária a postura ética, tal o potencial que tem de agredir a dignidade do outro, dos educandos.
O homem como ser social, está diuturnamente partilhando experiências e relações com os seus semelhantes, pois somente adquire a humanidade quando imerso na vida gregária. Essa associação se efetiva por meio das relações pessoais, coletivas e de trabalho as quais são sedimentadas em meio a um universo próprio à comunidade a qual está inserido, e, portanto, são permeadas pelas peculiaridades de seu tempo histórico. As relações são partilhadas por indivíduos semelhantes, mas com características subjetivas, políticas, econômicas e culturais as mais diversas; são contextuais. Cada um com seus interesses, suas aspirações, seus desejos, suas paixões e suas razões. Há, desse modo, a necessidade de mecanismos de orientação e regulação da forma de os sujeitos estarem em sociedade no intuito de contribuir com uma convivência respeitosa e pacífica. “A ética se instaura no âmbito dessa ambigüidade, reconhecendo, por um lado, a fragilidade do humano com suas paixões e, por outro, a tentativa permanente de construir normas que regulem a convivência humana para além da particularidade [...]” (HERMANN, 2001, p.11).
Severino (2007, p. 193) enfatiza que “a ética contemporânea entende que o sujeito se encontra sob as injunções da história que até certo ponto o conduz, mas que é também constituída por ele, por meio de sua prática efetiva” . Está inscrita não na natureza ou essência humana, como foi entendida em outras épocas, mas no caráter social e histórico, na dimensão coletiva e política da existência dos indivíduos, pois a “ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da relação social coletiva” (idem, p. 193).
Destaca-se como um desafio da escola e do docente, fazer com que os alunos se percebam e comportem-se como membros de uma comunidade. O ambiente escolar é eminentemente coletivo e possui cultura e dinâmicas próprias, cujas características se fundam no diálogo de seus sujeitos em interface entre a tradição educacional e as inovações cada vez mais exigidas nos contextos contemporâneos; constitui-se em espaço privilegiado para esse exercício.


A ação educativa escolar não é um fazer por fazer, mas um fazer intencional. Tratase da intencionalidade de um coletivo de sujeitos. Essa intencionalidade coletiva, porém, é impossível de ser construída sem que haja um mínimo de clareza teórica no nível dos sujeitos participantes, isto é, sem que os envolvidos nessa construção saibam dar as razões que motivam suas práticas. (BOUFLEUER, 2001, p.10)

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